4 de agosto de 2023

A ascensão, queda e ascensão dos NFT

Os NFT (Non fungible tokens ou tokens não fungíveis), entraram em força no radar dos investidores de criptoativos a partir de  2021, numa altura em que a bitcoin atingia máximos históricos. 
A promissora tecnologia, que permitia a posse de um artigo digital foi de imediato explorada na sua forma mais óbvia e fácil, surgindo um mercado de compra e venda de NFT baseados apenas em imagens digitais especialmente concebidas (à toa) para aquele efeito, num típico formato de "encher chouriços"...e singrou!

Quanto à exploração das potencialidades da tecnologia, essa tarefa teria de ficar para mais tarde. Se esperávamos por um mercado de transações de obras de arte digitais soberbamente executadas, o que vingou foram as imagens toscas, caricaturais, até pequenas imagens pixelizadas, coleções com milhares de exemplares numerados, imagens repetidas, com pequenas nuances de cor ou de pormenor entre si. 

A coleção de 10 mil crypto punks é bem ilustrativa do fenómeno, transformado em culto e sinal de status. Não é qualquer um que tem um NFT crypto punk, imagens criadas com meia dúzia de bits que podem ser utilizadas como fotos de perfil nas redes sociais. Na vida real conferem ainda aos seus detentores algumas vantagens no campo social, por exemplo, no acesso exclusivo a festas... 

O crypto punk 5822 foi até ao momento o mais caro da coleção, adquirido em fevereiro de 2022 por 23.7 milhões de dólares. Uma pequena imagem pixelizada com o rosto de um humanoide, que pode ser facilmente copiada e utilizada em qualquer site, vendida por um valor astronómico. O seu proprietário pode, contudo, gabar-se de ser ele o único que detém a efetiva propriedade.

Não é no entanto o NFT mais caro de sempre, façanha que coube a uma obra de Beeple, um artista gráfico que ganhou grande notoriedade no mercado. A obra em causa demorou 17 anos a executar, consistindo num mosaico com a totalidade das 5 mil imagens que o autor, à razão de uma por dia, criou durante aquele período e se lembrou de juntar numa só imagem... O NFT foi vendido por 69,3 milhões de dólares num leilão da conceituada Christie's em março de 2021.

Dando a possibilidade a qualquer pessoa de também criar e vender os seus próprios NFT, o mercado foi inundado por milhões destes criptoativos, contabilizando-se 11 milhões no início de 2023 e a tendência é para continuar a crescer, assim como a quantidade de dinheiro envolvido nas transações.

De acordo com um relatório da BCC Research, estima-se que dos 17,1 biliões de dólares atingidos em 2021, o mercado atinja os 125,6 biliões em 2027, correspondendo a uma taxa anual de crescimento médio de 27,3%. De acordo com esta consultora, irá verificar-se uma adoção massiva dos NFT quando as grandes marcas começarem a comercializar os seus produtos nesta plataforma, nomeadamente as relacionadas com o mundo da música, entretenimento, arte, jogos e desporto. Coisa que já vai acontecende ainda que de forma tímida.

Menos tímidos têm sido vários projetos (ou coleções) que têm chegado ao mercado com grande pompa e que acabam por se revelar enorme flops ou meras fráudes. 

Entre os exemplos mais flagrantes encontra-se o do Cryptozoo, com os criadores a anunciarem uma coleção de 10 mil NFT e um jogo que nunca viu a luz do dia. Já eles viram 1 milhão de dólares por imagens que, veio-se a verificar, tratavam-se de imagens correntes na internet que foram apenas manipuladas através de photoshop.

O projeto Pixelmon conseguiu arrecada 70 milhões de dólares com a venda da totalidade dos seus NFT que se revelaram bastante diferentes daquilo que eram anunciados em teasers lançados e que afinal traduziam muito mais marketing que arte.

Hapebeast consistia numa coleção de 8 mil NFT que renderam aos seus criadores 6 milhões de dólares. Os preços rápidamente despencaram tendo atualmente uma procura praticamente nula.

Os 10 mil Moonbirds foram colocados à venda por 2,5 ethereums (cerca de 3500 euros cada um) e esgotaram. Atualmente são transacionados por metade do valor.

Destaque ainda para a coleção Mekaverse, com 8888 exemplares que, afinal, nem todos eram diferentes como deviam ser. Tendo rendido 4,5 milhões, à euforia inicial sucedeu um choque de realidade que incluia inside trading dos criadores e desvalorizações enormes para os compradores.

Valorizações de 5 a 10 vezes no futuro era a promessa dos Bored Bunny, uma coleção divulgada por várias celebridades, como Floyd Mayweather, o DJ Khaled ou o ator e pugilista Jake Paul. Os autores da coleção (que ia buscar inspiração no nome aos famosos bored yacht apes), antes de "desaparecerem do mapa", conseguiram vender os 5 mil bored bunnies, com um prejuízo de 21 milhões para quem os comprou.

No final de 2021 havia cerca de 360 mil detentores de NFT. Sabe-se hoje que a larga maioria dos compradores de NFT não viu os seus investimentos darem lucro. O potencial de crescimento deste mercado é, contudo, enorme. Imagine-se, por exemplo, podermos ser detentores de um ou mais fotogramas digitais do nosso filme preferido. Ou sermos detentores de um ficheiro mp3 com uma edição limitada de uma música famosa. Coisas que estarão efetivamente relacionadas com o mundo real, nem que seja um sentimento ou emoção, reais. Algo que não tem preço...